o ocupante da brasília

junto ao terraço, nas traseiras do prédio onde estou aqui no algarve, fica uma pequena rua sem saída que serve de estacionamento.
as viaturas dos veraneantes coabitam com as dos residentes e ao fim de algum tempo já deu para perceber quem cá mora e quem por cá anda.
todas as noites por volta da uma da manhã vejo chegar um sujeito de t-shirt e jeans com um saco de treino na mão e o cabelo molhado que após olhar em todas as direcções entra numa velha carrinha vw brasília. sempre pensei que se tratava de um utilizador de algum ginásio e dei pouca importância ao facto, no local onde estou a escrever vejo toda a rua e por isso mesmo tenho dado conta da situação.
hoje pela manhã comentei o facto com a minha namorada e ela, que acorda muito mais cedo que eu e a minha filha, referiu que quando se levanta e vem ao terraço apanhar as toalhas de praia e os fatos de banho dá conta de um sujeito a sair desse mesmo carro vestido de camisa branca e calças pretas.
como o calor apertava vim cá fora tomar um duche no terraço e reparei que a brasília estava estacionada no mesmo sítio que era afinal o mesmo lugar desde que reparo na chegada do sujeito.
estranha coincidência ou sorte desmedida arranjar sempre o mesmo lugar para o carro...
como esta noite veio cá jantar um casal amigo de faro, fomos a uma tasquinha aqui perto de casa e eis que o sujeito lá trabalha.
após as sangrias e as piadas do costume lá procurei saber se era ou não ele o personagem da brasília e qual seria o seu segredo para conseguir arrumar o carro sempre no mesmo sítio.
infelizmente a história é triste: o sujeito é de uma pequena aldeia no alentejo, onde ficou a mulher e a filha, tendo ele rumou a sul à procura de trabalho, coisa que escasseia na sua terra.
o que ganha não dá para mandar dinheiro para a terra e ainda alugar uma casa por cá pelo que dorme todas as noites no carro.
quando acaba o trabalho, por volta da meia noite, toma um duche no restaurante e depois vem para o carro dormir, a cozinheira lava e passa a ferro uma camisa que ele todas as noites trás no saco para vestir no dia seguinte.
há 3 meses que esta situação se mantém mas ele não se queixa já que ccom o seu ordenado consegue sustentar a mulher e a filha apenas ficando para si com o dinheiro das gorjetas. contou-me que se tudo correr bem lá para o final do ano a mulher e a filha virão para perto de si porque vai vagar um lugar de ajudante de cozinha por essa altura e aí já poderá alugar um quarto para ficarem...
e é assim que mundo gira e volta a girar...

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