aparências

não é pelo facto de estarmos na praia que devemos ter os sentidos menos despertos e a atenção adormecida.
por estes dias tenho frequentado a "maria luisa" apenas e só porque fica perto da casa dos meus pais e porque sou demasiado comodista para tirar o carro do lugar. a pé a distância cumpre-se em 10 minutos e a dessa forma usufruo do "privilégio" de estar junto de algumas das melhores famílias portuguesas e de poder respirar do mesmo ar que eles respiram.
humildemente lá estamos de chapéu de sol na areia, afastados do luxo proporcionado pelo toldo e pelas cadeiras de encosto devidamente almofadadas e que logo ali distinguem "os uns dos outros", na sombra do nosso chapéu estacionamos a bela da geleira onde residem algumas cervejas, água, fruta e umas quantas sandes de frango com alface e milho.
longe vão os tempos em que nos dávamos ao luxo de ir ao bar do vitorino comer uma dose de ameijoas e umas cervejas e pagar 60 € por esse lanche.
contudo, de vez em quando lá vamos ao bar da "maria luisa" porque não é bonito largar uns xi-xis na água do mar, nem é bonito nem ecológico. pelo menos nesses momentos, quando damos largas às necessidades fisiológicas, somos iguais à casta dominante porque também eles têm bexiga e intestinos, logo também eles nasceram com as mesmas necessidades.
até aqui tudo bem, a água do mar é a mesma para todos, o sol também e a casa de banho idem, não existem tiques desassombrados de snobismo e a coisa rola na maior das tranquilidades, o que eu acho graça mas muita graça mesmo, são aqueles que se fazem passar por mais importantes do que aquilo que na realidade são.
esta tarde os nossos vizinhos na praia, entenda-se a parte da praia onde se colocam os chapéus de sol e não aquela onde estão os toldos, e que por acaso até se limitam a comer uns bolinhos de supermercado estilo queques e a beber umas garrafitas de água, cheias na torneira,lá de casa, recebem um telefonema e pela gritaria que a mulher fez na praia a chamar pelo marido devia ser de gente importante.
quando o meu vizinho de chapéus de sol atende o telefone a mulher guinchava a seu lado como se estivesse possuída apontando para o bar do vitorino.
o marido fazia que sim com a cabeça e lançou-se a toda a velocidade pedindo desculpa pelo atraso em atender a chamada porque estava no bar do vitorino "sabe aquele aqui na praia maria luisa a do club med" a encomendar umas ameijoas e uma lagostinha e tinha deixado o telefone no toldo mas "a minha empregada veio-me aqui a correr trazer o aparelho".
não assisti ao final da conversa porque me levantei da toalha e fui dar um mergulho para não ficar transtornado com tanta "cagança".
quando regressei à toalha estava o filho do casal a pedir um gelado e eles a dizerem para ele comer um bolinho que depois quando chegasse a casa já comia um gelado.
contudo, do desprezo inicial que toda aquela conversa me deixou não pude deixar de pensar que para muita gente a aparência ainda é meio caminho andado para o sucesso profissional e pessoal. quanto a nós, viemos embora para casa e depois fomos jantar à tasca do nelson comer umas ameijoas e uns robalos. comi tão bem ou melhor que na praia e pagamos 42 €, só não tínhamos era ninguém famoso ao nosso lado...

Comentários

Teresa disse…
Só para ficar mais descansada: este episódio é ficção não é? É uma caricatura, espero eu...
mário disse…
São muitos ainda os que vivem dessas falsas caganças,é assim que o nosso país vive em parte...de aparências...
por isso é que não cresce.
Teresa, infelizmente é verdade e nada tem de ficção.

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